Capítulo 2:
O quarto dia da Criação
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Nosso Deus criou a luz no primeiro dia da criação, porém o sol e os luminares só foram criados no quarto dia.
O que podemos extrair da luz inicial e da luz do quarto dia?
No primeiro dia da criação, Deus introduz uma dimensão que transcende o visível: a luz divina.
No quarto dia da criação, Deus introduz a dimensão material dos luminares e suas várias funções:
“Disse Deus: Haja luminares no firmamento do céu para separar o dia da noite; e sejam eles para sinais, para tempos determinados, para dias e anos” (Gênesis 1:14).
Se você parar e ler com calma, verá que essa declaração não é apenas astronômica — é profundamente espiritual.
Funções dos luminares
Os luminares não foram criados apenas para iluminar, mas para marcar ritmos, revelar sinais e organizar o tempo como linguagem divina.
No texto bíblico, a criação do Sol, da Lua e das estrelas estabelece cinco funções essenciais:
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Separar o dia da noite;
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Servir de sinais;
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Marcar tempos determinados;
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Contar estações, dias e anos;
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Iluminar a Terra.
Cada uma dessas funções carrega um propósito espiritual.
1. Separação: A separação entre dia e noite representa mais do que ciclos naturais — simboliza o discernimento entre luz e trevas, entre revelação e ocultamento.
2. Sinalização: Os luminares como sinais apontam para eventos especiais, como eclipses e luas cheias, que na tradição bíblica podem anunciar tempos de juízo, bênção ou mudança espiritual.
3. Tempos determinados: referem-se aos "Moedim", expressão da língua hebraica para os tempos sagrados designados por Deus para um encontro com o ser humano.
Na definição das festas sagradas em Levítico 23:2 lemos:
"Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: As festas fixas do Senhor, que proclamareis, serão santas convocações; são estas as minhas festas".
O texto define o calendário bíblico para além de uma ferramenta de organização, mas uma estrutura profética, reforçando que o tempo não é apenas cronológico (kronos), mas também espiritual (kairós), com momentos específicos para agir, celebrar ou refletir.
4. Contagem: encontramos aqui a função mais simples, que é a contagem da sucessão das estações, dias e anos. Sobre isso está escrito em Gênesis 8:22:
"Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite".
5. Iluminação: Por fim, os luminares iluminam e brilham sobre a Terra, sendo a luz solar essencial para a vida, o crescimento das plantas, a regulação do clima e a saúde humana.
Espiritualmente, a luz criada no primeiro dia, a luz divina e espiritual, sempre representa revelação, clareza e presença divina.
Como afirma o salmista: “Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho” (Salmos 119:105).
Aplicando este salmo ao tema em estudo, percebemos que a Palavra de Deus deve ser o guia, ela fornece a luz, isto é, a compreensão para o real sentido do tempo em nossas vidas.
Desvio de propósito
Contudo, ao longo da história, houve um lamentável desvio de propósito, talvez por falta de conhecimento.
O fascínio humano pelos luminares moldou as práticas espirituais e culturais de diversas nações.
O deus Sin (lua), Shamash (sol) e Ishtar (Vênus) eram centrais nas religiões da Mesopotâmia (sumérios, babilônios e assírios).
No Egito antigo, o deus Rá (sol) era considerado o criador e governante do mundo. O faraó Akhenaton chegou a instituir o culto exclusivo ao disco solar Aton. As estrelas e constelações também tinham papel ritualístico, especialmente na arquitetura das pirâmides, alinhadas com eventos celestes.
No hinduísmo, o Sol (Surya) é reverenciado como um deus que concede saúde e sabedoria. O ritual Surya Namaskar (Saudação ao Sol) é uma prática diária de ioga. A lua (Chandra) também é considerada uma divindade e influencia festivais e jejuns, como o Karva Chauth, em que mulheres jejuam até verem a lua.
Na civilização Maia, o planeta vênus e o sol eram objetos de culto e usados para determinar datas de rituais e sacrifícios.
No império Inca, Inti, o deus Sol, era a principal divindade. Os incas acreditavam que o imperador era descendente direto de Inti. A lua (Mama Killa) também era venerada, especialmente pelas mulheres.
Grécia e Roma Antigas eram grandes centros politeístas e associavam os planetas e estrelas aos deuses: Hélio (Sol), Selene (Lua), e os planetas aos deuses olímpicos.
Desse modo, no decorrer da história, os luminares, originalmente criados para servir, foram transformados em objetos de culto por diversas culturas antigas e Deus foi deixado de lado.
Na prática dessas nações pagãs, a astrologia ganhou força como forma de prever o destino humano com base nos luminares.
Como podemos então, fazer um primeiro exercício intelectual de encontrar e posicionar a verdade no contexto do tempo e dos luminares sem desviar para a idolatria?
A Palavra de Deus orienta em Deuteronômio 4:19:
“Guarda-te, que não levantes os teus olhos aos céus, e vendo o Sol, a Lua e as estrelas, todo o exército dos céus, sejas impelido a te inclinares perante eles e a lhes prestar culto.”
Essa exortação revela que a adoração dos luminares é uma forma de idolatria que substitui o Criador pela criação.
O profeta Jeremias também denuncia essa prática ao dizer:
“Assim diz o Senhor: Não aprendais o caminho das nações, nem vos espanteis com os sinais dos céus, porque as nações se espantam com eles” (Jeremias 10:2).
O culto aos luminares, portanto, não é apenas um erro teológico — é uma afronta à soberania divina e uma distorção do propósito original da criação.
Em contraste, a Bíblia apresenta os luminares como instrumentos de sabedoria e compreensão do tempo.
Quando Deus chama Abraão para fora da tenda e lhe ordena: “Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes contar. Assim será a tua descendência” (Gênesis 15:5), Ele não apenas revela uma promessa numérica para a descendência, mas insere o patriarca na linguagem dos luminares como sinais proféticos.
As estrelas tornam-se metáfora viva da aliança divina.
O significado mais simples é que não é possível contar a vasta imensidão dos luminares.
Porém, indo um pouco mais além do literal, Abraão é convidado a enxergar, nas constelações, não apenas pontos de luz, mas o testemunho silencioso de um futuro incontável, ordenado no espaço-tempo por um Deus que governa o universo.
O que Deus estava ensinando a Abraão? Esse momento revela que contar estrelas é identificar a mensagem do tempo, é contar propósitos.
É entender que o céu não apenas brilha — ele fala.
E quando aprendemos a escutar os luminares como sinais, descobrimos que o tempo é mais do que um fluxo — é uma revelação.
O nascimento de Jesus, nosso justo Messias também foi sinalizado no céu.
Em Mateus 2:1-2 está escrito:
¹ Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém.
² E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo.
A estrela no Oriente que sinalizaria a chegada de Jesus havia sido profetizada há séculos, em Números 24:17:
¹⁷ Vê-lo-ei, mas não agora;
contemplá-lo-ei, mas não de perto;
uma estrela procederá de Jacó,
de Israel subirá um cetro
que ferirá as têmporas de Moabe
e destruirá todos os filhos de Sete.
Números 24:17
O próprio Jesus afirmou:
"Eu sou a estrela da manhã" - Apocalipse 22:16
Os luminares, portanto, não são deuses, mas mensageiros de sinais proféticos.
Nosso justo Messias, Jesus, nos anunciou que sua segunda vinda seria precedida por esses sinais nos céus:
²⁴ Mas, naqueles dias, após a referida tribulação,
o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade,
²⁵ as estrelas cairão do firmamento,
e os poderes dos céus serão abalados.
²⁶ Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens,
com grande poder e glória.
²⁷ E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu.
Marcos 13:24-27
Em verdade, aprendemos que os luminares não devem ser adorados, mas compreendidos.
Eles são um presente para auxiliar o nosso avanço espiritual como filhos de Deus.
E quando compreendidos, revelam que cada dia, cada estação, cada sinal é uma oportunidade de alinhamento com o plano divino, tal como se faz necessário neste tempo.