Capítulo 1:
O tempo como linguagem
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Desde os primeiros versículos da Bíblia, o tempo não é tratado como um pano de fundo neutro, mas como parte ativa da criação.
“E houve tarde e manhã, o primeiro dia” (Gênesis 1:5).
Porque essa frase é repetida ao longo da narrativa dos sete dias da criação?
A repetição revela que o tempo é uma estrutura ordenada por Deus — uma moldura que sustenta a realidade e dá ritmo à existência.
O tempo não apenas passa. Ele comunica silenciosamente.
O Salmo 19 nos diz exatamente isso:
¹ Os céus proclamam a glória de Deus,
e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.
² Um dia discursa a outro dia,
e uma noite revela conhecimento a outra noite.
³ Não há linguagem, nem há palavras,
e deles não se ouve nenhum som;
⁴ no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz,
e as suas palavras, até aos confins do mundo.
Salmos 19:1-4
Nas sagradas escrituras, o tempo é mais do que cronologia.
Ele é uma linguagem espiritual que comunica verdades, ativa propósitos e revela a vontade divina. Como dito acima, ele "anuncia as obras de suas mãos".
No pensamento judaico, o tempo é como uma espiral: ele não se repete, mas se aprofunda.
Cada ciclo — seja diário, semanal, mensal ou anual — traz consigo uma nova oportunidade de crescimento, correção e revelação.
Essa visão é reforçada por dois conceitos que a teologia cristã incorporou: kronos e kairós.
O kronos é o tempo linear, mensurável — os segundos, minutos, dias e anos sucessivos que compõem nossa rotina.
É o tempo do relógio, das agendas, das estações.
Já o kairós é o tempo oportuno, o momento certo, o instante em que Deus intervém na história humana com propósito e significado.
É o tempo da graça, da revelação, da decisão.
Enquanto o kronos nos ensina a viver com ordem e disciplina, o kairós nos convida a ir além, a perceber os momentos em que o céu desce e toca a terra.
Viver com sabedoria, portanto, é mais do que contar os dias cronologicamente — é discernir os tempos da comunicação divina.
É entender que há instantes especiais em que Deus se aproxima, em que portas se abrem, em que sementes devem ser plantadas ou colhidas.
É reconhecer que o tempo não é apenas um recurso de contagem — é um mensageiro.
Essa sabedoria é expressa por uma oração de Moisés de forma sublime no Salmo 90:12:
“Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos um coração sábio.”
Contar os dias não é apenas marcar datas no calendário. É aprender a viver com propósito.
É entender que cada dia é uma oportunidade de alinhamento com o plano divino.
É perceber que o tempo é um dom — e que a forma como o usamos revela o que valorizamos.
Ao longo deste estudo bíblico, você verá que o tempo, na Bíblia, está sempre ligado ao cumprimento exato dos planos do Criador, à identidade humana e ao destino final de todas as coisas.
Os luminares foram criados para marcar tempos especiais.
As tribos de Israel foram posicionadas em torno do Tabernáculo segundo uma ordem temporal e espiritual. Os doze meses do calendário judaico carregam temas específicos que ativam dimensões da alma.
E as porções semanais das Escrituras — as parashiot — são como mensagens celestiais que chegam no momento exato em que precisam ser ouvidas.
O tempo é, portanto, uma linguagem.
E como toda linguagem, ele precisa ser aprendido, interpretado e vivido.
Este capítulo é o primeiro passo para que você não apenas conte os dias, mas compreenda o que eles estão dizendo.
Porque quando você aprende a entender o tempo, descobre que ele está sempre apontando para o propósito — e que cada estação é uma oportunidade de transformação e crescimento pessoal e coletivo.